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Conheça um pouco a Gestalt-Terapia

Dentro da psicologia existem diferentes abordagens que conduzirão o trabalho dos psicólogos clínicos. Linhas teóricas que são escolhidas pelos psicólogos para embasarem o seu trabalho.

Nesta matéria falarei um pouco sobre a Gestalt-Terapia, abordagem escolhida por mim, para desenvolver meu trabalho na pratica clínica. Tentarei traduzir de forma simples, o que é e como se desenvolve o trabalho nesta abordagem, porém é importante deixar registrado que meu objetivo é que o leitor conheça um pouco desta abordagem, deixando claro que é algo bem mais complexo do que poderei abordar aqui e com uma teoria bem consistente.

O que é Gestalt-terapia

A Gestalt-Terapia é uma abordagem que foi criada por um alemão, neuropsiquiatra, Frederick Perls, em colaboração com outras 7 pessoas, que ficaram conhecidos como o Grupo dos Sete.

É uma abordagem de relação, que enfatiza a experiência vivida, o contato e o diálogo. Ela parte do princípio de que somos seres singulares e que assimilamos nossas experiências de forma particular, ou seja, mesmo passando pelo mesmo episódio que outra pessoa a percepção diante do acontecimento será única. Não somos neutros diante dos nossos familiares, amigos, colegas de trabalho e até mesmo desconhecidos, estando em constante relação com o meio em que estamos inseridos, afetando e sendo afetado a todo instante pelo que vemos, ouvimos, vivemos, com quem nos relacionamentos, etc. E é a partir desta linha de pensamento, que quando estamos atendendo um cliente olhamos não só para o que está sendo dito, mas como está sendo dito, nas manifestações de seu corpo, em que contexto a pessoa vive, o que e quem foram e são suas referências.

No contato que ocorre entre a pessoa e o meio externo, o individuo assimila as novidades que surgem do ambiente e rejeita as que não fazem sentido ou que não o levará a satisfação de uma necessidade. Porém precisamos identificar quais as necessidades queremos atender, que pode ser desde algo simples como saciar a sede, até questões complexas como no amor. Num processo saudável, sendo identificadas as necessidades, busca-se à satisfação e quando ela ocorre o ciclo é completado. Porém quando interrompida em algum momento do ciclo, surgem às situações inacabadas. Na tentativa de fechar uma situação inacabada ajustamentos criativos são feitos, porém sem consciência e atualização, o fluxo continua interrompido e surgem ou se mantém os sintomas (conflitos, bloqueios, medos, traumas…). As soluções encontradas no passado, muitas vezes não fazem mais sentido ou podem estar causando sofrimento no presente e precisam ser olhadas e atualizadas. Segundo Liello, citando PHG (1997, p.101) em Dicionário de Gestalt-terapia (2007, p.203) “é somente por meio da assimilação, do acabamento, que aprendemos algo e estamos preparados para uma nova situação.”

Nosso trabalho é desenvolvido no presente, no aqui e agora, ou seja, como as situações passadas estão interferindo no presente e quais as suas expectativas e possibilidades de futuro. Sempre acreditando no potencial transformador do ser-humano, buscando a autoaceitação, criando autosuporte e autovalorização.

Tipos de atendimento clínico 

Os atendimentos podem ser individual, casal, família e grupo, tanto presencial quanto on-line, de acordo com a demanda do cliente e avaliação do terapeuta. O trabalho também pode ser desenvolvido em workshops. Atendimentos em conjunto, exemplo, individual e casal, com profissionais diferentes também são realizados.

A frequência dos atendimentos vai ser determinada pelo profissional, levando em consideração as possibilidades e subjetividades de seu(s) cliente(s).

Os grupos podem ser homogêneos ou heterogêneos. Com um tema específico, exemplo: grupo de mães, ou com pessoas que buscaram a terapia por diferentes motivos. A faixa etária e sexo dos participantes também vão depender da decisão do profissional, que podem ou não serem critérios na formação do grupo. A quantidade de participantes e se será possível ou não a entrada de outros membros após o início do grupo também será uma decisão do profissional e em alguns casos em parceria com os clientes.

Como podemos observar existem várias possibilidades e todas são pensadas e escolhidas observando as particularidades e necessidades de cada cliente.

A vivência terapêutica

O terapeuta ouve o que é dito (conteúdo), mas principalmente a forma como é dito, não ficando fechado só na fala, mas também olhando para a entonação da voz e expressões corporais, o que e como está sendo mostrando. É de extrema importância olhar para o que acontece na sessão terapêutica, como se dá o encontro entre o cliente e o psicólogo. O terapeuta nunca será uma figura neutra. É importante que ele consiga diferenciar o que pertence a ele e o que é do cliente, porém ele faz parte do campo, logo também o afeta e é afetado.

O psicólogo é livre para criar e experimentar coisas novas na sessão com seu cliente, usando técnicas e experimentos nos momentos em que o terapeuta achar interessante o uso deles e levando em consideração a disponibilidade e aproveitamento do cliente para tais. Eles podem ser pensados anteriormente pelo terapeuta ou surgir durante a sessão. É fundamental o uso da teoria para embasar essa criação.

Mais do que a mudança, o Gestalt-terapeuta se preocupa que o cliente perceba e sinta o que vive, se tornando consciente do que e como faz em sua vida, pois para que aconteça a mudança, antes ele precisa se perceber, se conscientizar, se aceitar e desenvolver o autossuporte, passando a não mais buscar no externo um apoio, mas sim desenvolvendo sua independência e potencial para lidar com os conflitos que vive e viverá, usando para isso as suas características e bagagem de vida. Aprendendo assim a fazer escolhas que condizem com suas necessidades.

Referência

D´ACRI, G.; LIMA, P. (Ticha); ORGLER. S. Dicionário de Gestalt-terapia – Gestaltês.  São Paulo: Summus, 2007.