Muitos terapeutas, na maioria das vezes os iniciantes, se deparam com a dificuldade de sustentação do silêncio quando atendem um paciente. Nossa vontade de trabalhar inicialmente é exorbitante e queremos mostrar serviço, logo quando nos defrontamos com um cliente. Quando naquela sessão, o paciente permanece por muito tempo quieto, ou traz poucos conteúdos a serem trabalhados, ficamos atordoados.
Os questionamentos que surgem a partir disso são: O que devo fazer para aprender a trabalhar com o silêncio? Com a falta de fala, de conteúdo?
Na verdade, o silêncio não deve ser trabalhado, mas acolhido e sustentado. A nossa fala, não é somente verbal, mas também não-verbal, logo o cliente não só se expressa falando, mas gesticulando. O nosso corpo, nosso rosto, nos levam para caminhos que somente a fala se torna crua.Quando acolho o silêncio, eu posso observar detalhes que antes estavam de fundo. Por exemplo, o que se mostra atrás daquela pessoa que está de frente a mim, ou como é sua expressão?
O sustentamento do silêncio, também serve para o próprio terapeuta respirar e saber acolher seu próprio silêncio, se acalmar, e olhar para si.[…]
[…] Eu acabei descobrindo que, na verdade, muitos terapeutas andam navegando no mesmo barco. Mesmo com anos de experiência na clínica, uma quantidade significativa de psicólogos se queixam dessa dificuldade em trabalhar com o silêncio. Eles acabam se perdendo , e quanto mais tentam compreender ou modificar esses momentos, menos conseguem usufruir dos ganhos que podem ocorrer com o processo de apenas ficar em silêncio.
A reflexão que chego, é que o silêncio não é o vilão, mas o nosso estranhamento em relação a ele, é que nos bloqueia de nos permitir, até de permitir nossos clientes, a verem e perceberem que a terapia não é somente uma fala sem fim. Até mesmo, nossa fala necessita de um direcionamento.”