Apesar de ser muito associado à morte, durante nossas vidas passamos por diversos momentos de luto. É um processo que está diretamente relacionado a uma perda: seja de um emprego, de um relacionamento, de uma visão sobre si mesmo e até da saúde, pela descoberta de uma doença grave.
Toda perda gera um luto
Toda perda gera um luto, porém cada sujeito vivenciará este momento de uma forma diferente. Pois, sendo o luto um conjunto de quadros clínicos que se intercalam e também se sobrepõem, não existe uma maneira única de expressá-lo. Suas diversas fases aparecem com contornos variados para cada um.
Pode ser que um sujeito apresente na fase inicial do luto mais depressão, enquanto outro apresente mais raiva. As fases do luto emocional (negação, raiva, barganha, depressão e aceitação) são didáticas, não necessariamente se passa por todas ou em uma sequência específica.
Além do desânimo, angústia, isolamento e da revolta que comumente observamos, há momentos em que a pessoa enlutada experimenta hiperatividade relacionada muitas vezes ao uso de psicotrópicos, em uma tentativa desesperada de fuga da dor insuportável que sente.
É um estado de gangorra emocional, o que pode ser frustrante para o enlutado, que se vê em uma crescente motivacional e em seguida em um estado de profunda depressão. Pequenas coisas podem elevar ou derrubar seu estado de espírito, pois é um momento de extrema sensibilidade.
O acolhimento das pessoas ao redor, amigos e familiares, faz grande diferença neste processo. É comum haver cobrança para que o sujeito saia de sua condição deprimida, que “se ajude”, fazendo com que o enlutado se sinta ainda mais incompreendido.
Por isso, é necessário que se respeite o momento em que se vive, evitando-se cobranças que abalarão a autoestima do indivíduo e, principalmente, não fazendo comparações com quem passa por uma situação parecida. Mesmo em circunstâncias próximas, as experiências são distintas.
O papel de quem convive é o de encorajar o enlutado, mostrar do que ele é capaz, dar suporte e atenção. Ouvi-lo e compreendê-lo, sem julgamentos. Com empatia, procurando perceber o mundo da maneira como este o está percebendo. Um mundo assustador, que lhe tira o que tem de mais precioso, mas que também o desafia a recomeçar.
Este estado de luto costuma aparecer muito em épocas festivas e finais de ano: muitas lembranças de quem já se foi, recentemente ou não; saudades de como eram comemoradas as festividades; e pensamentos de que as comemorações já não tem mais importância.
O papel do terapeuta
O terapeuta deve mostrar ao paciente que ele possui recursos para se adaptar à sua nova realidade. Não se fala em superação, pois sempre haverá a ferida da perda. Mostra-se ao enlutado que seu processo é esperado, mas exige cuidados. O terapeuta ajuda o paciente a se expressar.
Esse processo de profundo estresse emocional mobiliza internamente forças que precisam ser reorganizadas ou até mesmo reconstruídas. A perda de um ente querido, ou a visão de que levará uma vida curta e limitada por conta de uma doença faz com que o indivíduo repense todas suas crenças. É uma situação de perda de tudo no que se acredita.
Quando se perde tudo, só resta o vazio. E para que esse vazio seja novamente preenchido, é preciso recomeçar do zero, buscando dar significado à perda ocorrida, reafirmando e renovando vínculos, sendo, desta forma, desenvolvidos novos recursos psíquicos.
Leia também: A capacidade de superar adversidades