Antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, dentro da Psicologia, existiam metas terapêuticas relacionadas à identificação e ao desenvolvimento de talentos e pontos fortes, o que tornaria a vida das pessoas mais produtiva e feliz. Mas estes objetivos foram negligenciados pela ciência psicológica. Durante muito tempo, a Psicologia se ocupou de tratar exclusivamente as patologias humanas: doenças mentais, comportamentos não aceitos socialmente, e/ou pensamentos distantes da realidade.
O movimento da Psicologia Positiva, iniciado nos anos 90 do século passado, nos Estados Unidos, visou resgatar estas antigas missões e a considerar, de fato, o conceito estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – em 1946, a saúde passou a ser entendida como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não consistindo apenas na ausência de doença ou de enfermidade”.
Com o advento dessa abordagem, passou a ser possível procurar o psicólogo não somente para tentar solucionar problemas, mas também para potencializar qualidades que o indivíduo, muitas vezes, nem sabe que possui, pois o foco desta terapia é no potencial, não na doença. Ou seja, mesmo não estando em sofrimento emocional, o sujeito utiliza a terapia para se autodesenvolver, promovendo saúde e prevenindo doenças. E quando há sofrimento, o indivíduo não deve ter alta assim que livrar-se deste, mas sim, mais do que prevenir recaídas, a terapia deve levar o indivíduo a tomar conhecimento de suas qualidades com o objetivo final de fazer com que este encontre sentido para sua vida.
A forma de ver o mundo e a si mesmo representa o alicerce da autoestima. Por isso, aliando a Psicologia Positiva à Terapia Cognitivo-Comportamental – TCC Positiva, o sujeito trabalha suas metas de maneira eficiente baseado no modelo de crença-emoção-comportamento. Nesse modelo, o deslocamento de crenças negativas para outras mais realistas e positivas representa substituir um espelho desfocado por outro em perfeito estado. Essa mudança refletirá na emoção e, consequentemente, no comportamento do sujeito, que tenderá a tomar atitudes mais positivas e saudáveis.
O modelo tem o objetivo de aumentar a emoção positiva e reduzir a negativa. Baseado em talentos (inatos, vêm de dentro) e pontos fortes (aprendidos, vêm de fora), o objetivo é o de reforçar o senso de autoeficácia do sujeito. Os talentos e os pontos fortes formam o conjunto das qualidades, que devem ser continuamente desenvolvidas. Dessa forma, a terapia busca aumentar a consciência em relação a estas e integrá-las à autoimagem, fortalecendo a autoestima.
O aumento das emoções positivas faz com que a pessoa tenha um repertório maior de possibilidades de pensamentos e ações. Seria como tirar uma venda dos olhos e enxergar as oportunidades disponíveis, pois a alegria parece nos abrir para pensamentos e comportamentos alternativos. Estas experiências positivas protegem das emoções negativas, além de poder ajudar a recuperar dos efeitos destas. Também traz como benefícios melhorar os relacionamentos interpessoais e desempenho em grupos, e ampliar o pensamento (criatividade e capacidade de resolver problemas), pois os recursos pessoais adquiridos funcionam como reservas diante da dificuldade.
Para saber se possui ou não uma determinada característica como ponto forte ou talento, o sujeito deve considerar algumas variáveis: se há a necessidade de desempenhar tal atividade e se, mesmo com cansaço, há bem-estar após realizá-la; se há sucesso nesse desempenho, pois este está relacionado à aptidão; e se o ponto forte está relacionado a emoções positivas, ficando fácil se envolver e permanecer focado na atividade. As emoções positivas podem ser expressas, entre outras, nas formas de: alegria, gratidão, serenidade, interesse, esperança, orgulho, diversão, inspiração, admiração e amor.
E como aumentar o bem-estar e a felicidade?
Expressando gratidão, cultivando o otimismo, evitando ruminações e comparações sociais, praticando a cortesia, cultivando relacionamentos, buscando estratégias de superação de dificuldades, perdoando, desfrutando das alegrias da vida, estabelecendo e procurando alcançar metas, praticando sua espiritualidade, cuidando do corpo (meditação, esporte, etc.), e experimentando estados de “flow”, que é quando o indivíduo faz algo tão prazeroso que não vê o tempo passar.
Mesmo quem ainda não chegou à total potencialização de suas qualidades, de modo que consiga realizar estas atividades de maneira espontânea, deve ter a intenção de fazê-las, deve buscá-las. As atividades devem ser escolhidas e ajustadas de acordo com os interesses, valores e recursos (tempo e dinheiro) de cada um. Após a identificação das qualidades, é importante que se verifique se estas estão sendo postas em prática, pois assim como a doença mental, o repertório positivo também contagia.